Damasco, 6 de mai de 2018 às 10:00
Arqueólogos realizam escavações nas ruínas de uma suposta “igreja secreta” em Manbij (Síria), que data dos primeiros séculos do cristianismo e que se salvou de ser destruída pelo Estado Islâmico (ISIS), durante os dois anos em que o grupo terrorista ocupou a região.
Os terroristas do ISIS costumavam destruir as imagens religiosas, as igrejas e os mosteiros das cidades que invadiam, especialmente cristãs. As marcas desses crimes contra o patrimônio também se encontram em outras cidades da Síria e na Planície de Nínive (Iraque).
Segundo informou Fox News, os jihadistas não prestaram atenção na suposta “igreja secreta” de Manbij porque jogaram lixo sobre um monte de terra do qual só se podia distinguir o marco da porta que conduzia ao recinto.
O ISIS foi expulso de Mabij em 2016 pelas Forças Democráticas da Síria, respaldadas pelos Estados Unidos.
O chefe do Comitê de Exploração no Conselho de Ruínas em Mabij, Abdulwahab Sheko, indicou que havia explorado a região em 2014, mas quando aconteceu a invasão dos jihadistas, decidiu manter em segredo a existência de possíveis ruínas cristãs.
Como aquela área estava minada e tinha que ser removida, as escavações não puderam começar até agosto de 2017. Em março deste ano, Sheko e sua equipe organizaram um “festival” para que os moradores visitassem o local e vissem os achados.
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— Sharon Ritei (@sritei) 1 de maio de 2018
Sheko disse à Fox News que entrou em contato com arqueólogos e organizações internacionais porque precisava de ajuda para identificar os restos e examinar os ossos que encontraram. Entretanto, responderam-lhe que ainda é muito perigoso enviar equipes arqueológicas e especialistas devido ao conflito na Síria.
Enquanto isso, os arqueólogos sírios assinalaram que estas ruínas poderiam ser de “uma igreja secreta” ou um refúgio para os cristãos, e que datam do século III ou IV, quando a região estava dominada pelo Império Romano.
O espaço subterrâneo é composto por vários túneis estreitos com espaços para a entrada de luz. Alguns eram rotas de fuga para portas escondidas. Sheko assegurou que junto com sua equipe encontrou três degraus que conduzem para o que poderia ser um altar.
Além disso, nas paredes estão gravadas cruzes de diferentes estilos e escrituras talhadas em pedra.
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Nesse sentido, o arqueólogo e professor de história e arqueologia da Universidade de Southeastern (Estados Unidos), John Wineland, explicou a Fox News que esta poderia se tratar de uma descoberta importante.
As ruínas “indicam que havia uma população cristã significativa na área que sentia a necessidade de ocultar suas atividades. Esta é uma provável referência à perseguição do governo romano, que era comum no período”, explicou Wineland.
Naquela época, os cristãos “se reuniam em segredo, sob a terra, para evitar problemas. Mas os romanos tinham medo de qualquer grupo que se reunisse em segredo. Os romanos não entenderam muitas práticas cristãs e, frequentemente, os acusaram de crimes, como o canibalismo, pois não compreendiam a comunhão cristã na qual Cristo diz para que tomem e comam seu corpo e bebam seu sangue”.
Por outro lado, outro sítio arqueológico foi descoberto em Manbij pelos moradores e presume-se que tenha sido um cemitério. É necessário descer onze degraus para chegar a uma cova que tem muitos compartimentos, seus tetos são abobodados e foram gravados símbolos cristãos nas paredes.
As escavações no local começaram em setembro de 2017. Sheko comentou a Fox News que, além de ser um cemitério, o local também era utilizado por clérigos, pois cada túmulo tem um “almofada de pedra” para a cabeça.
O responsável pelo arquivo e a topografia do Conselho de Ruínas em Manbij, Hassan Darwish, indicou que conseguiram salvar algumas peças que o Estado Islâmico tinha vendido nos mercados locais.
Por sua parte, Sheko assinalou que quer desenterrar e proteger as ruínas que forem encontradas.
“Nós somos muçulmanos, mas não somos como os muçulmanos do ISIS. Nós cuidamos dessas ruínas cristãs. Nós as respeitamos, nós respeitamos a humanidade”, afirmou.
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